É preciso gerar confiança e estabilidade no país
Publicado em 29/05/2023 | Jornal O Tempo
A economia brasileira tem enfrentado um cenário desafiador nos últimos anos, e as perspectivas para 2023 ainda são preocupantes. Com um crescimento econômico esperado de pouco mais de 1%, inflação projetada 5,8% e taxa Selic estimada de 12,5%, de acordo com o relatório Focus do Banco Central, haverá um contexto de “tempestade quase perfeita” criada por dificuldades tanto internas quanto externas.
O cenário internacional ainda será marcado pela alta inflação, altas taxas de juros, baixo crescimento econômico, aumento das demissões em especial nos setores de tecnologia e varejo, disputas pela liderança dos principais blocos econômicos, tensões no oriente médio, rearranjos no welfare state de alguns países e continuidade da guerra da Ucrânia.
O contexto interno brasileiro já sofre com o crédito restrito e caro, demandas interna e externa retraídas, famílias endividadas, aumento das demissões, alta da inadimplência atingindo mais de 66 milhões de pessoas, empresas endividadas e em dificuldades – em especial as varejistas que dependem de muito capital de giro –, aumento dos pedidos de recuperação judicial e falências de empresas como Americanas, Grupo Petrópolis, Tok&Stok, Oi, Amaro, Raiola e Nexpe, entre outras.
Infelizmente as empresas com gestão amadora, dificuldades crônicas de caixa, lideranças fracas, culturas baseadas no medo e desconhecimento dos seus diferenciais competitivos entrarão em colapso.
Fator muito preocupante é a inflação projetada para 2023. O aumento dos preços dos produtos e serviços tem impactado fortemente o poder de compra da população desde 2020 com a pandemia e guerra da Ucrânia. Itens essenciais como alimentos, combustíveis e energia têm sustentado altas que comprometem o orçamento das famílias e afetam a qualidade de vida das pessoas.
A inflação também gera incertezas para as empresas, que precisam lidar com a dificuldade em repassar os aumentos dos custos das matérias-primas para os preços aos consumidores, afetando suas margens de lucro.
O crédito está mais restrito e caro, dificultando o acesso a financiamentos e empréstimos. Consumos e novos investimentos são adiados, as despesas financeiras sufocam os orçamentos domésticos e empresariais, levando ao ciclo de desaquecimento econômico.
A demanda retraída, somada à falta de confiança dos consumidores, aumenta a dificuldade das empresas em vender seus produtos e serviços, afetando diretamente a produção, o faturamento e a geração de empregos, contribuindo para o cenário de baixo crescimento.
Para combater essas dificuldades, o Brasil precisa estimular o trabalho complementar entre os Três Poderes da República, promover a estabilidade institucional, linhas facilitadas de crédito para investimentos, respeito aos contratos, gestão profissional para as pequenas e médias empresas, reforma tributária, melhorias da infraestrutura logística, acordos bilaterais e com blocos comerciais favoráveis ao Brasil, com mais direcionamento objetivo e menos ideológico.
Ao gerar confiança e estabilidade, essas iniciativas atraem investimentos internacionais e estimulam os nacionais, contribuindo para a estabilidade do câmbio, dinamismo econômico, maior contratação e redução do desemprego, aumento dos impostos arrecadados, da produtividade e produção com ganhos para toda a sociedade.
O Brasil também deve incentivar o empreendedorismo responsável, defender os pilares ESG, diminuir a burocracia, os gargalos tributários e estruturais para que empresas de todos os portes e setores possam ser mais competitivas, tanto nos momentos de bonança quanto, principalmente, nos momentos de crise.
(*) Carlos Caixeta é economista, consultor empresarial e conselheiro associado do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
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