Gazeta do Povo 20/10/2021
O ano de 2021 veio com a proposta de trazer esperança e a retomada da vida normal após a pandemia. No entanto, faltando três meses para o final do ano, essa “normalidade” parece que não voltará tão cedo. Se por um lado tivemos uma surpresa positiva no país com a forte adesão às vacinas, por outro vivemos uma instabilidade política que afeta diretamente a confiança dos investidores e empresários, reduzindo as apostas e investimentos no país.
Em 2020 o país conseguiu voltar para o ranking dos 25 países mais confiáveis para o investimento estrangeiro direto (IED), indicador produzido pela consultoria norte-americana A.T. Kearney. Porém, desde então o cenário mudou e hoje vemos uma realidade menos animadora. Até março deste ano, o Banco Central divulgou que o ingresso líquido em investimentos diretos no país nos 12 meses encerrados em março de 2021 totalizou US$ 39,3 bilhões, 42,7% a menos se comparado com o mesmo período do ano anterior. Para um país com o potencial e a dimensão econômica do Brasil, eram esperados números melhores.
O que está prejudicando a atração e entrada de mais recursos? Além da política, o elevado risco fiscal, com as contas públicas registrando déficits persistentes. As instabilidades na política e na economia são fatores que afetam diretamente as contas públicas e a confiança geral, tornando o Brasil menos atrativo para investidores estrangeiros. Com a desvalorização da moeda e a imagem do país prejudicada externamente, além do baixo investimento também observamos empresas que se retiraram do país, como a Ford e a Sony, que encerrou parte de suas atividades.
Do ponto de vista das organizações, essas incertezas formam um ambiente difícil para desenvolver os negócios e crescer de forma consistente. A dinâmica empresarial precisa de certa estabilidade para prosperar, e em um país onde em um ano se cresce e no seguinte há queda da demanda e investimentos, em razão da instabilidade, fica difícil manter o ritmo da prosperidade e lucratividade.
A inflação também prejudica a confiança geral, fundamental para atrair investimentos e aumentar a propensão das famílias para consumir e comprar. Com o aumento da inflação, 85% dos brasileiros reduziram o consumo de alimentos desde o início do ano, com destaque para carne de boi. Esse cenário traz também uma preocupação extra para 2022, ano de eleição presidencial.
Nesse contexto, é muito difícil fazer previsões, mas o PIB brasileiro deve se recuperar da queda de 2020 e crescer mais de 4,5% em 2021, ensaiando uma retomada menor de crescimento em 2022, com 1,5%. As reformas administrativa e fiscal são pontos importantes que impactarão o ritmo da retomada em 2022, podendo trazer mais ou menos confiança ao cenário brasileiro. Caso a sociedade e o mercado entendam que houve esforço verdadeiro do parlamento para aprovar reformas significativas, a recuperação econômica será positivamente afetada.
Caso a instabilidade geral se agrave, o pior cenário seria a estagflação, que é a combinação de uma inflação alta com baixo crescimento, comprometendo ainda mais o poder de consumo da população, o ritmo econômico e a disposição interna e externa dos empresários em investir. Esse é um cenário que preocupa muito e que poderia afetar negativamente o desenvolvimento dos negócios já no fim do segundo semestre de 2021 e início de 2022.
É fundamental que todos esses assuntos estejam no radar dos tomadores de decisão, pois afetam diretamente a prosperidade das empresas e da população em geral.
Carlos Caixeta
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